Catarina era menina sapeca. Vivia perambulando para lá e para cá o dia todo em sua terra natal: Recife. Sua mãe, coitada, vivia apavorada com medo daquela menina dócil e frágil se machucar. Tola, achar que uma criança esperta igual Catarina fosse dócil. Catarina era muito mal criada, isso sim. Respondia os professores, batia nos seus colegas de classe, era o terror da sua vizinhança. Certo dia ao ir à escola, peste como ela era, pegou uma pedra e tacou rumo a vidraça do seu vizinho – de fato, ela não gostava dele. Aquele velho rabugento e mal educado – dizia ela. Sua vidraça estilhaçou de um modo que quando o Seu José foi ver quem tinha feito essa mal criação, ela não estava mais lá. Na verdade, não sobrava nem um pedaço de sua vidraça inteira para lhe contar quem foi o autor dessa ato de má fé.
Mas se tem uma lugar que essa menina sapeca não gostava era sua escola. Na verdade não era a escola, o problema era que Catarina não gostava de estudar. Lugar que era motivo de inquietação para ela, ora pois, uma menina mal criada, sem educação e burra, não há de gostar de escola mesmo. Desculpe-me pelo uso desse adjetivo tão pesado. Catarina não era burra, até pelo fato de desconhecer a palavra. Para ela, burra era apenas o feminino de burro. Pobre Catarina! Sua felicidade se tornou efêmera ao ver a nota de sua prova de matemática: Zero! – exclamou Catarina espantada ao recebe-la. Espantada ficou a professora ao ver a reação de Catarina, uma menina que está na terceira série e não sabe quanto é dois vezes dois, ficar espantada com a nota de sua prova.
Mal sabe vocês, mas Catarina de pequena só tem o tamanho. Nem tinha atingido a maioridade e era tão autoritária quanto seu pai. Por falar nisso, seu pai não era flor que se cheirasse. Catarina era muito mal criada, vivia falando palavrões. Por isso andava sempre com a boca inchada de tanto levar tapa na boca de seu pai mais autoritário ainda. Um palavrão, um tapa na boca. E assim seguia esse dilema infinito. Catarina cresceu, agora sim virou moça de verdade.
Já na plenitude de seus trinta anos, ela se tornou uma pessoa fria e vingativa. Mas ela era tão mal criada que havia de apanhar mesmo. Ao longo de sua vida -basicamente depois de seus trinta anos- ela cometeu vários homicídios. Acho que de tanto sofrer, quis se vingar de todas as pessoas que dela judiaram. Ao menos na concepção dela.
Catarina assassinou Seu Zé, sua professora de matemática e alguns de seus “colegas” da época do colégio. Catarina era uma assassina procurada pela polícia, a mais temida de todas. Sua mãe ficou chocada quando soube que sua filha estava sendo procurada pela polícia e exaltou-se, dizendo: “Minha filha Catarina. Onde ela há de estar neste momento, meu Deus? Olhai-a para sim Senhor, pois é só isso que te peço!”. Depois de alguns poucos anos essa procura da polícia foi bem sucedida. Catarina foi pressa em um presídio de segurança máxima de Pernambuco. Durante esse cinco anos que ela se encontra presa, até hoje ela bebe remédio para se curar do transtorno que tudo isso lhe causou. Mas um fato não pode ser esquecido. Ao ser presa, Catarina disparou: ” Ainda voltarei para me vingar de todos vocês – jogando as palavras ao vento, referindo-se às pessoas que ela ainda há de se vingar.